Está em busca de um bom app de saúde mental? Saiba como escolher
Temos hoje uma infinidade de apps, gadgets e sensores que são tão flexíveis e convenientes que podemos levar a qualquer lugar. A área de saúde avançou muito com a mobilidade (mHealth). Surgiram diversos aplicativos de smartphone que prometem melhorar ou acompanhar sua saúde.
No campo da saúde mental, existem apps para fazer terapia em teleconferência, para seguir seu humor e oferecer habilidades de lidar com elas, para aliviar o estresse, fazer meditação, entre outros. Um estudo do JAMA indicou que existem mais de dez mil apps no mercado.
Apesar de apps prometerem muitas coisas, é necessário uma boa dose de cautela. Quando você escolhe um aplicativo, tenha em mente duas bases principais: se o conteúdo tem fundamento científico e se entende para onde seus dados médicos irão. Muitos apps não seguem os guidelines da psiquiatria.
Por exemplo, para um app de prevenção de suicídio a conduta é seguir seis diretrizes clínicas:
- Acompanhar os pensamentos suicidas e o humor;
- Desenvolver planos de segurança;
- Recomendar ações para impedir pensamentos suicidas;
- Ter fonte de informações e educação;
- Acesso a redes de apoio e;
- Acesso a aconselhamento de emergência.
Dos aplicativos avaliados no estudo da BMC Medicine, apenas 7% dos apps estudados seguiam as diretrizes. Essa é uma amostra de quantos apps seguem a ciência e a medicina baseada em evidência. A resposta clara é: apenas em poucos produtos.
Para ajudar nesse desafio, a divisão de psiquiatria digital do BIDMC desenvolveu algumas perguntas a serem feitas.
Na hora de baixar um app para acompanhar seu humor, procure saber:
- Quem desenvolveu o app?
- Existe política de privacidade?
- Que medidas de segurança estão em vigência?
- Que tipo de dados do usuário o aplicativo coleta e esses dados são compartilhados?
- Quais informações o aplicativo recebe e o que é retornado ao usuário?
- O aplicativo é baseado em evidências?
- Faz o que afirma fazer?
Os pesquisadores desenvolveram uma série de perguntas que dão um panorama "diagnóstico" do app.
Lá no site, já existem vários apps analisados.
Os cientistas esperam que com a conscientização possa haver um repositório digital com a informação atualizada de cada app, como uma curadoria de quais são mais interessantes. E a decisão de uso é sempre do paciente, mas uma decisão muito melhor tomada quando há informação.
A questão levantada da privacidade também é importante.
Nos Estados Unidos, o governo lavou as mãos quanto ao que se faz com os dados médicos individuais. Quando dentro de hospitais e sistemas de saúde, os dados estão protegidos por uma política de privacidade, ética e transferência de dados chamada de HIPAA. Agora, é permitido ao paciente baixar ou dar acesso aos apps a todos seus dados médicos. Todo o histórico, consultas, exames… Pasmem!
Uma vez fora dos arquivos de um hospital, esses dados podem ser repassados ou vendidos a terceiros. O ponto central é que o usuário do aplicativo não está alerta que na verdade está perdendo sua privacidade, e que estará exposto a abusos. Por outro lado, existe uma nova tendência em que o próprio paciente pode monetizar seus dados médicos.
Sabemos que ansiedade, depressão e estresse são alguns dos distúrbios mentais mais comuns. Em algum momento da vida, até 30% da população mundial lidará com algum transtorno mental. E, além disso, existem eventos estressores que as pessoas passam durante a vida que o apoio e promoção da saúde mental são importantíssimos.
De fato, o que os apps oferecem podem melhorar a saúde mental dos pacientes. Entretanto, temos que ficar espertos quanto a muitos aspectos desses apps.
Olhar para a eficácia do que é prometido é um ponto importante, e para isso o app tem que estar associado a estudos científicos. Outro aspecto fundamental é garantir seu direito a privacidade, existem muitas questões a serem respondidas para decidir conscientemente antes de usar um app de saúde mental.
Nesse post demos algumas ferramentas a você. Fique atento, não deixe de exercer seus direitos e senso crítico!
Sobre os autores
Monica Matsumoto é cientista e professora de Engenharia Biomédica no ITA. Curiosa, ela tem interesse em áreas multidisciplinares e procura conectar pesquisadores em diferentes campos do conhecimento. Monica é formada em engenharia pelo ITA e doutora em ciências pela USP, e trabalhou em diferentes instituições como InCor/HCFMUSP, UPenn e EyeNetra.
Shridhar Jayanthi é Agente de Patentes com registro no escritório de patentes norte-americano (USPTO) e tem doutorado em Engenharia Elétrica pela Universidade de Michigan (EUA) e diploma de Engenheiro de Computação pelo ITA. Atualmente, ele trabalha com empresas de alta tecnologia para facilitar obtenção de patentes e, nas (poucas) horas vagas, é um estudante de problemas na intersecção entre direito, tecnologia e sociedade. Antes disso, Shridhar teve uma vida acadêmica com passagens pela Rice, MIT, Michigan, Pennsylvania e no InCor/USP, e trabalhou com pesquisa em áreas diversas da matemática, computação e biologia sintética.
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