Estudo aponta que triagem feita por bots não funciona para covid-19
Desde o início da pandemia, todos nós temos aprendido muito sobre o que é ter covid-19. Observações de vários sintomas como febre, tosse seca, falta de ar, perda de olfato e diarreia foram feitas.
Os sintomas são percepções de mudança do seu corpo. São apenas uma indicação que podem levar a vários diagnósticos e, em geral, precisam de investigação.
Como resultado, os sintomas te levam a procurar atendimento médico. O grande medo em tempos de covid é provocar uma onda de pacientes aos hospitais. Esse aumento do fluxo pode sobrecarregar a capacidade de atendimento da rede de saúde. Mas quem deve ir ao hospital?
Pensando em orientar o paciente e não lotar os hospitais, alguns serviços de saúde lançaram bots para encaminhar as pessoas com sintomas. Os bots são um chat online que vão lançando perguntas e direcionam as próximas de acordo com as respostas, de forma "inteligente" e automática. Assim, em algum momento os bots recomendam se você tem que buscar ou não atendimento médico.
Um estudo recém-publicado na revista Digital Medicine da Nature desbancou os testes orientados por bots. Os cientistas da Universidade de Stanford, Alison Callahan e Ethan Steinberg, olharam os sintomas relatados por pacientes na base de dados do sistema de saúde ligado à universidade. Eles buscaram todos os tipos de sintomas das anotações de mais de 1.700 pacientes, como dispneia, tosse, estado febril, covid, náusea e vômito, dor, paracetamol, fadiga, edema, dor no peito, erupção cutânea.
Baseado nesses relatos, os bioinformatas fizeram testes para ver se era possível fazer a triagem de pacientes baseada em sintomas. Eles analisaram diversos tipos de doenças respiratórias como adenovírus, vírus influenza A, metapneumovírus humano, vírus parainfluenza, vírus sincicial respiratório (RSV), rinovírus e SARS-CoV-2 (o coronavírus que causa a doença covid-19).
Como resultado, duas doenças respiratórias (RSV e influenza A) tinham poder moderado de serem diferenciados pelos sintomas (as áreas sob a curva do classificador eram 0.77 e 0.73, respectivamente). Entretanto, o SARS-CoV-2 e demais doenças respiratórias testadas não tiveram poder diagnóstico e com áreas entre 0.60 e 0.68 não são assertivos o suficiente como teste.
Ou seja, não tem como orientar um paciente pelo relato de sintomas e os testes de bot não servem, em realidade, como triagem. É um grande alerta para todos: não consulte bots para a covid-19!
Quando procurar atendimento médico
Os novos protocolos recomendam que o paciente busque o serviço de saúde assim que houver sintomas, mesmo que leves. Ao invés de pedir para as pessoas ficarem em casa, a indicação do Ministério da Saúde é que a pessoa busque a triagem clínica e testes nos postos de saúde.
A doença do novo coronavírus (covid-19) ainda é praticamente desconhecida e difícil de entender. Tanto os sintomas quanto os efeitos sistêmicos estão sendo estudados. Ainda não se sabe, por exemplo, por que as pessoas respondem diferentemente ao vírus ou se é possível desenvolver imunidade… São muitas dúvidas investigadas pelos cientistas que irão ajudar no combate à pandemia. Enquanto isso, fique em casa se possível, e siga as orientações para se proteger ao máximo.
Sobre os autores
Monica Matsumoto é cientista e professora de Engenharia Biomédica no ITA. Curiosa, ela tem interesse em áreas multidisciplinares e procura conectar pesquisadores em diferentes campos do conhecimento. Monica é formada em engenharia pelo ITA e doutora em ciências pela USP, e trabalhou em diferentes instituições como InCor/HCFMUSP, UPenn e EyeNetra.
Shridhar Jayanthi é Agente de Patentes com registro no escritório de patentes norte-americano (USPTO) e tem doutorado em Engenharia Elétrica pela Universidade de Michigan (EUA) e diploma de Engenheiro de Computação pelo ITA. Atualmente, ele trabalha com empresas de alta tecnologia para facilitar obtenção de patentes e, nas (poucas) horas vagas, é um estudante de problemas na intersecção entre direito, tecnologia e sociedade. Antes disso, Shridhar teve uma vida acadêmica com passagens pela Rice, MIT, Michigan, Pennsylvania e no InCor/USP, e trabalhou com pesquisa em áreas diversas da matemática, computação e biologia sintética.
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