Robô tira sangue melhor que enfermeiro e pode evitar contaminações
Ninguém gosta de fazer exame de sangue. Ainda mais em tempos de pandemia de coronavírus. Nem quem está sendo testado nem o profissional de saúde querem se expor a este risco, de entrar em contato com pessoas possivelmente doentes. Desenvolvido pela Rutgers University em Nova Jersey, nos EUA, equipamento guiado por ultrassom pode tirar o sangue do paciente melhor que especialistas, de forma totalmente automática.
Aquela picadinha rápida da agulha nem sempre é feliz. Para quem tem acesso venoso difícil, surgem algumas complicações como perfuração da veia, hemorragia e perturbação a tecidos próximos. Em cirurgias, esse acesso venoso é importante para levar soro e medicações intravenosas ou também em canulação de artérias para procedimentos minimamente invasivos como cateterismo.
Além de evitar o contato médico-paciente, o estudo mostrou que o equipamento tem acertos maiores que os especialistas. Em média 20% das punções dão errado e em casos difíceis esse número é ainda maior. Com o robô, esse número caiu em quatro vezes quando testado em modelos animais.
Robô sofisticado
O robô desenvolvido é altamente sofisticado nas áreas de robótica, mecânica, imageamento, processamento e inteligência artificial.
Para esse tipo de procedimento, uma das dificuldades é que o tecido mole se deforma com a inserção da agulha. Essa característica torna a tarefa dinâmica. Outra dificuldade é entender o que é veia e artéria e traçar a melhor rota para não perfurar artérias, por exemplo.
Esses desafios foram vencidos com técnicas sofisticadas. O equipamento é guiado com imagens de infravermelho e ultrassom (modo-B e Doppler colorido), com precisão sub-milimétrica. Com isso é possível saber a profundidade do vaso e também se é uma veia ou artéria. Em software, o equipamento de imagem reconhece o vaso por inteligência artificial, segmenta e classifica os vasos a cada instante.
O equipamento também é dotado de sensor de pressão, que mimetiza a sensação de toque do profissional de saúde. Esse retorno dá mais uma informação para a atuação do robô.
Tudo isso foi construído num equipamento portátil, que faz esse procedimento de forma rápida e com menos erro médico.
Perspectivas
Existe uma tendência para tornar exames de saúde cada vez mais autônomos. Exames que possam ser feitos por um profissional pouco treinado ou até mesmo pelo próprio indivíduo! Como exemplos de aparelhos aprovados pelo FDA (
Em casos de pandemia como o covid-19, esse tipo de teste autônomo poderia ser muito importante. Essa coleta de sangue automática pode evitar contato dos profissionais de saúde com casos suspeitos e ter amostras coletadas pelo próprio paciente, em isolamento. Dependendo como é feito o exame do coronavírus, esse teste pode ser coletado por cotonete e essa amostra processada.
Os avanços da IA e equipamentos de robótica podem ser uma ótima oportunidade de mercado em tempos de crise e contaminação pandêmica como a que estamos vivendo.
Sobre os autores
Monica Matsumoto é cientista e professora de Engenharia Biomédica no ITA. Curiosa, ela tem interesse em áreas multidisciplinares e procura conectar pesquisadores em diferentes campos do conhecimento. Monica é formada em engenharia pelo ITA e doutora em ciências pela USP, e trabalhou em diferentes instituições como InCor/HCFMUSP, UPenn e EyeNetra.
Shridhar Jayanthi é Agente de Patentes com registro no escritório de patentes norte-americano (USPTO) e tem doutorado em Engenharia Elétrica pela Universidade de Michigan (EUA) e diploma de Engenheiro de Computação pelo ITA. Atualmente, ele trabalha com empresas de alta tecnologia para facilitar obtenção de patentes e, nas (poucas) horas vagas, é um estudante de problemas na intersecção entre direito, tecnologia e sociedade. Antes disso, Shridhar teve uma vida acadêmica com passagens pela Rice, MIT, Michigan, Pennsylvania e no InCor/USP, e trabalhou com pesquisa em áreas diversas da matemática, computação e biologia sintética.
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