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Sangue artificial poderá resolver problema de quem espera por transfusão

Mônica Matsumoto

14/10/2019 08h00

Foto de LuAnn Hunt. Fonte Unsplash.

A transfusão de sangue é essencial para tratar diferentes condições médicas. Um paciente que sofreu um trauma hemorrágico, por exemplo, irá precisar de diversas bolsas para repor a perda de sangue. Um paciente com deficiência em coagulação, por sua vez, precisará repor as plaquetas.

Um time de cientistas japoneses (Hagisawa K, Kinoshita M e outros) criaram um sangue artificial que é capaz de recuperar as funções vitais das células vermelhas e plaquetas. As células vermelhas são responsáveis pelo transporte de gases, oxigênio e gás carbônico, e as plaquetas são responsáveis pela coagulação do sangue. O material desenvolvido pelos cientistas é composto de frações de proteínas e micro vesículas lipídicas que tem funções compatíveis às nossas células.

Esse sangue artificial pode ser um substituto das bolsas de sangue em casos específicos. Ele também pode ser usado por pacientes com qualquer tipo sanguíneo, sem a necessidade de tipagem e espera, o que é uma grande vantagem em atendimento de emergência que precisa ser rápido.

O sangue artificial já foi testado com sucesso em modelo animal, que justamente simulava um paciente com hemorragia massiva e poucas plaquetas (trombocitopenia) A injeção desse material cessou totalmente a hemorragia, repôs a função das células vermelhas, além de salvar o animal de anemia fatal.

A transfusão traz riscos que podem ser mitigados ou até eliminados com o substituto de sangue. Os riscos associados ao sangue do doador são infecções por virus, reações alérgicas, febre, reações de quebra de célula, e dosagem de ferro no sangue. O sangue artificial traz menos antígenos e material exógeno, e pode de fato ser uma excelente alternativa às bolsas de sangue doadas.

Outras abordagens também estão sendo exploradas. O CRISPR/Cas9 é uma técnica disruptiva que torna fácil editar genes. Há grande potencial para usar a edição gênica para tratar a doença falciforme e talassemia. Tratando diretamente as células do sangue pode-se reduzir diretamente a necessidade de transfusões.

Outro campo que têm contribuído muito nos avanços científicos é o de células tronco. As células tronco podem vir do cordão umbilical ou até de células da pele que podem ser reprogramadas para tornarem-se células tronco. Células hematopoéticas pluripotentes podem ser cultivadas e gerar células especializadas como vermelhas, brancas e plaquetas. Essas células produzidas tem a mesma característica e qualidade do que as do sangue doado. Ainda existem desafios para sua produção. O caminho, entretanto, é promissor como substituto de doadores.

O sangue artificial pode ajudar a substituir algumas funções do sangue doado, e ser usados em muitos tratamentos. O exemplo da transfusão artificial que cessa a hemorragia é uma notícia muito animadora. Além do estoque de sangue doado não ser estável nas diferentes áreas do país, o problema de demanda envolve situações como desastres ou emergências. Assim, essas novas técnicas, baseadas no desenvolvimento da ciência, podem trazer um volume adequado de sangue ou subprodutos prontos para transfusão.

Sobre os autores

Daniel Schultz é cientista, professor de microbiologia e membro do núcleo de ciências computacionais em Dartmouth (EUA). Estuda a dinâmica dos processos celulares, com foco na evolução de bactérias resistentes a antibióticos. É formado em engenharia pelo ITA, doutor em química pela Universidade da Califórnia San Diego e pós-doutorado em biologia sistêmica em Harvard. Possui trabalhos de alto impacto publicados em várias áreas, da física teórica à biologia experimental, e busca integrar essas várias áreas do conhecimento para desvendar os detalhes de como funciona a vida ao nível microscópico.

Monica Matsumoto é cientista e professora de Engenharia Biomédica no ITA. Curiosa, ela tem interesse em áreas multidisciplinares e procura conectar pesquisadores em diferentes campos do conhecimento. Monica é formada em engenharia pelo ITA e doutora em ciências pela USP, e trabalhou em diferentes instituições como InCor/HCFMUSP, UPenn e EyeNetra.

Shridhar Jayanthi é Agente de Patentes com registro no escritório de patentes norte-americano (USPTO) e tem doutorado em Engenharia Elétrica pela Universidade de Michigan (EUA) e diploma de Engenheiro de Computação pelo ITA. Atualmente, ele trabalha com empresas de alta tecnologia para facilitar obtenção de patentes e, nas (poucas) horas vagas, é um estudante de problemas na intersecção entre direito, tecnologia e sociedade. Antes disso, Shridhar teve uma vida acadêmica com passagens pela Rice, MIT, Michigan, Pennsylvania e no InCor/USP, e trabalhou com pesquisa em áreas diversas da matemática, computação e biologia sintética.

Sobre o blog

Novidades da ciência e tecnologia, trazidas por brasileiros espalhados pelo mundo fazendo pesquisa de ponta. Um espaço para discussões sobre os rumos que as novas descobertas e inovações tecnológicas podem trazer para a sociedade.