Transporte na cidade: como a "imobilidade urbana" impacta em nossa saúde?
Viver em centros urbanos impacta nossa saúde. É fácil observar nas "artérias" da cidade (que são as ruas e avenidas), a perturbação causada pelo tráfego urbano. Veículos em movimento ou parados no trânsito contribuem com a emissão de poluentes e o consumo de combustíveis fósseis. Além disso, o tempo gasto de deslocamento diário drena horas do dia, que poderiam ser aproveitadas com outras coisas como encontrar amigos, ler um livro ou ir na academia.
Outra perturbação é o barulho produzido pelos veículos nas ruas: buzinas, escapamentos e arrancadas do motor adicionam ruído ao ambiente urbano. Escrevemos num post anterior como o tempo de deslocamento e barulho prejudicam a qualidade do sono. A vida na cidade dessa forma pode ser árida e agressiva, e acabamos dando forma ao nosso dia a dia pensando nos congestionamentos na cidade.
Foto aérea de São Paulo por Pablo de Souza©
Transporte multimodal
Ainda bem que carro e ônibus não são as únicas opções de transporte. A tendência hoje é o uso de diversas modalidades de deslocamento. Para diferentes trajetos, ir à pé, de carro, de ônibus, bike ou metrô pode ser mais interessante. Como você se move na cidade? Em São Paulo e em muitas cidades do país, já estão disponíveis várias modalidades de transporte compartilhado como bicicleta, patinete e carro (como Uber e Zipcar). Esses serviços são ativados por app, e têm a conveniência de usar o GPS do smartphone para encontrar o veículo, ou o veículo ir ao seu encontro. Assim, o usuário tem a liberdade de usar o serviço e não ter que ser proprietário de objetos, e ele faz a escolha baseada na maior conveniência daquele trecho de deslocamento.
Transporte do futuro
Existe um movimento para criar uma modalidade com veículos aéreos de decolagem e pouso vertical (eVTOL, electric Vertical Take-Off and Landing) para transporte urbano. Além da praticidade de pular o trânsito terrestre, esses veículos voadores têm a ambição de usar motores elétricos, que são mais silenciosos e não usam combustível fóssil.
É o que a parceria entre a Embraer e o Uber propôs, com previsão de primeiros testes em L.A., Dallas (EUA) e Doha (Catar) a partir de 2020. A corrida começou e existem outras empresas além da Embraer, como a Lilium e Transcend Air, que já estão trabalhando em protótipos deste meio de transporte.
Exemplo de eVTOL, veículo aéreo de decolagem e pouso vertical. Fonte: Lilium aviation.
Nossa saúde na cidade
Não costumamos pensar muito sobre como a vida em centros urbanos tem efeitos profundos em nossa rotina e consequentemente em nossa saúde. No livro "Vida Urbana e Saúde", o médico e pesquisador Paulo Saldiva toca em vários aspectos da vivência nas cidades. Hoje, mais de 80% da população brasileira vive nelas. Questões de saúde pública, como alterações climáticas, doenças contagiosas, obesidade, violência, distúrbios mentais e mobilidade ganham novas cores (em tons de concreto) nesse movimento de adensamento populacional.
Um dos efeitos na saúde mental, de acordo com os estudos apresentados por Saldiva, é o aumento de prevalência da depressão e ansiedade na população. Alguns exemplos de gatilhos: o de certa forma contraditório sentimento de isolamento dos centros urbanos, a evaporação de tempo e os prazos apertados na escola ou trabalho causam sofrimento nas pessoas. O ritmo acelerado não oferece respiro, e não podemos nem ficar doentes. Dessa forma, deixamos de respeitar nosso metabolismo natural e adoecemos. Estes e outros desdobramentos da vida na cidade são abordados de forma cuidadosa e científica pelo autor.
Vida urbana em Dordrecht, Holanda. Fonte.
Políticas públicas para melhorar a vida na cidade
Entender esses fenômenos e como podemos melhorar nossa qualidade de vida são espaços que podemos ocupar para agir em nossas vidas. Entretanto, isso não é suficiente.
Voltando à questão do transporte, nossa opção individual tem um impacto significativo em nossas vidas, porém pequeno no trânsito geral. É necessário pensar em políticas públicas que regulem e forneçam infraestrutura básica para podermos de fato usar as diversas opções de transporte. Por exemplo, a ampliação de ciclofaixas e a expansão da malha de metrô podem ajudar, mas dependem de decisões na esfera administrativa. O acesso à saúde está intimamente ligado à condições de saneamento básico, existência de espaços de lazer, educação, cuidado com o meio ambiente entre outros.
Essa preocupação mais coletiva, de cidadão, também é um espaço que podemos ocupar. Pensar no coletivo e reivindicar condições para uma vida positiva. O que queremos na cidade para que ela não seja tão árida para nossa saúde?
Sobre os autores
Monica Matsumoto é cientista e professora de Engenharia Biomédica no ITA. Curiosa, ela tem interesse em áreas multidisciplinares e procura conectar pesquisadores em diferentes campos do conhecimento. Monica é formada em engenharia pelo ITA e doutora em ciências pela USP, e trabalhou em diferentes instituições como InCor/HCFMUSP, UPenn e EyeNetra.
Shridhar Jayanthi é Agente de Patentes com registro no escritório de patentes norte-americano (USPTO) e tem doutorado em Engenharia Elétrica pela Universidade de Michigan (EUA) e diploma de Engenheiro de Computação pelo ITA. Atualmente, ele trabalha com empresas de alta tecnologia para facilitar obtenção de patentes e, nas (poucas) horas vagas, é um estudante de problemas na intersecção entre direito, tecnologia e sociedade. Antes disso, Shridhar teve uma vida acadêmica com passagens pela Rice, MIT, Michigan, Pennsylvania e no InCor/USP, e trabalhou com pesquisa em áreas diversas da matemática, computação e biologia sintética.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.